segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mussie de maracujá.
Biscoito recheado com refrigerante.
Nessa visita a recepção foi boa.



No fim da tarde entramos em um beco estreito ao lado de um campo de futebol. No final do beco o quintal da casa, e outras casinhas menores nesse quintal. A avó nos espera, sentada na cadeira de balanço. Mostra as fotos na sala dos netos preciosos, a cadeirinha de balanço. A familia do artista, quando ela era bebê morava em uma das casinhas do quintal. Chão de cimento vermelho e liso, janelas e porta de madeira.
-No quintal tinha uma árvore grande onde a gente subia.
-Minha avó pegava as bicicletas, os três netos, botava no ônibus e ia passear.

















"Para lá ficava o meu balé, parecia tão longe quando eu era criança!"
Ouvi a artista apontar, pouco antes de entrarmos na rua estreita. A primeira coisa que pensamos era se ali, o trabalho não teria pouca visibilidade e seu objetivo não seria desperdiçado.
Entramos na rua e paramos na segunda casa, sendo recebidas pelo simpático avô de uma das meninas, a visita da neta não parecia ser uma novidade para ele, novidade só tanta gente chegando junto com ela, aquele monte de mulher, entrando na casa, falando, vendo tudo.
-Aqui tinha um tanque de peixes coloridos feito com um anel de cimento.
-Eu subia aqui em uma cadeira pra ver o paquerinha que morava na casa da frente.
-Meus avós sempre jogavam baralho, e a casa cheirava a café.
-Eu me lembro muito da comida da minha avó, adorava a comida da minha avó.
-Nessa porta eu brincava de bang-bang, entrava de uma vez, jogando as portas pros dois lados.
 Muitas das coisas da casa eram ainda do tempo de criança da artista, com as cores daqueles anos 80/90.









As visitas

Parte do processo da exposição envolveu uma série de visitas coletivas aos lugares de memória, aqueles que escolhidos pelas artistas possuíam um bom bocado de significados para suas primeiras memórias. Lugares das quais suas vidas comunitárias e pessoais foram marcantes em seus primeiros anos.
No primeiro dos lugares visitamos um prédio e um dos apartamentos onde uma das artistas viveu. Ali o passado foi resgatado do fundo do lago do presente, e tomado emprestado. A percepção física evocava o fantasma dos objetos do passado: -Aqui ficava o guarda-roupas, ali a mesa de jantar... Tudo era tão maior!
-Ali morava minha melhor amiga!
-Ali eu briguei com ela de rolar no chão!
-Ali, no portão eu chorava esperando minha mãe voltar do trabalho!
-Ali a dona do apartamento tinha um Rusky, que ficava nos olhando com seu olho azul pelo buraquinho do azuleijo.

-Daquela quina caia a água de onde tomávamos banho de chuva...
-Aquele prédio não parece uma coruja?













Acredito que minha geração vive um conflito com a memória e seu papel em nossas vidas, e me coloco aqui como uma representante daquela. Esquecemos-nos muito rápido, vivemos na velocidade da informação, no tempo do consumo, um tempo de instantaneidade contínua. Passamos por constantes transformações do fluxo informacional, e é esse fluxo que determina a forma como nos relacionamos com as coisas, os sentimentos, os pensamentos, o espaço e o tempo. Um tempo infinitamente presente, que subverte nossas relações como passado e com o futuro. Em relação às gerações anteriores, nossa noção temporal mudou (MELLO, 2009). O passado, passa muito rápido, se subdivide em passados velhos e novos, o tempo é usado e consumido. A memória se dilui.
O conceito de memória pode ser compreendido como o armazenamento de informações passadas das quais o presente se serve (LE GOFF, 1996), mas alguns teóricos destrincharam ainda mais essas questões.
Ao comentar as concepções de Henri Bergson sobre a memória, Bosi (1994) esclarece que a memória seria nosso conhecimento subjetivo das coisas, dividindo-se em percepção e lembrança. A primeira apareceria como uma pausa entre as ações do organismo, seria uma relação do presente e da ideia, um ‘vazio’ que se povoa de imagens, e parte da imagem do próprio corpo e de suas relações com o espaço que o cerca, estando localizada na superfície do presente. Já a lembrança exigiria um ‘movimento’, um ‘trabalho’ ou uma ‘ação’, o ato de lembrar que está diretamente ligado ao presente, como se o passado puro e intacto se armazenasse no fundo do lago do presente e fosse resgatado pelo ato de lembrar, invadindo e misturando-se ao presente e à percepção, formando, assim, o complexo da memória.
Sendo assim, o corpo, os objetos e o espaço com o qual esse corpo se relaciona seriam “capturados” pela percepção e resgatados pela lembrança, sendo ambos atos do presente, relacionando-se com o passado, seja capturando informações do presente e armazenando- as como passado, seja partindo do presente em direção ao passado no ato de lembrar. “É do presente que parte o chamado ao qual a lembrança responde.” (BOSI, 2007, p. 48).
A subjetividade, a contemplação e o espírito seriam alegações voltadas à lembrança, enquanto a exterioridade e a matéria filiam-se a percepção. A percepção é também uma relação do indivíduo com o espaço no seu presente. Assim, a memória torna-se uma relação do espaço e do tempo, da imagem e do mundo.

A minha infância foi um deleite de aventura, brincadeiras, jogos, ao menos a
parte que agora lembro com mais saudade e dos melhores momentos.
Eu lembro de três lugares especiais e duradouros nos quais era gostoso ser
criança, ter todas as horas do dia pra simplesmente brincar, descobrir o mundo e me
divertir.
O primeiro deles é o sítio dos meus pais em Jaçanaú, localidade antes de chegar
em Maranguape, passei 6 meses morando com minha família lá nos meus 12 anos,
eu acho, enquanto minha casa aqui em Fortaleza estava totalmente em reforma. Eu
diria que não há coisa mais gostosa em ser criança num sítio com lagoa e vizinhos
da sua mesma idade, com bicicleta, pescaria, banho de lagoa, passeio de barco e
principalmente com segurança, coisas ruins do tipo assalto, seqüestro nem passavam por
nossas cabeças. Era liberdade total. Sou a caçula dos filhos e acompanhar meus irmãos
sempre foi um desafio, e a coisa que mais recordo como incrível foi quando a lagoa
que é bem grande estava seca, mas bem seca, pois quando se olhava pra ela era aquelas
cenas de seca braba do Nordeste mesmo, a terra toda rachada, às vezes uma lama, e daí
apareciam coisas que foram perdidas na lagoa. Nesse cenário de seca, eu, meus dois
irmãos e os três vizinhos (meninos por sinal) fomos desbravar aquele cenário na longa e
instigante caminhada de arrudiar toda a lagoa, nossa! Foi muito massa, primeiro a gente
andava e o chão se craquelava cada vez mais, daí a gente ia andando e olhando tudo que
a água encobria, as pedras, torras de madeira no fundo, meu irmão nerd, rs, até fez um
mapa da lagoa. A gente via, objetos perdidos, peixes mortos, e fez por outra um de nós
afundava o pé, achando que a terra tava firme, mas era pura lama. Isso a gente fez uma
vez só, deve ter demorado umas 3hs, bastou uma vez mesmo e foi massa!

Outro local significativo pra minha infância foi a casa dos meus avós maternos
no bairro Nova Assunção. Seguinte eu sempre morei na mesma casa a vida toda,
ainda moro nela, e quando era criança tinha notícias que alguns amigos se mudavam,
e eu sempre quis me mudar, não pelo fato de não gostar da minha casa ou da minha
vizinhança, mas porque eu achava que seria muito massa arrumar tudo, empacotar, daí
chegar numa casa totalmente vazia e começar a preenche-lá. Bem, daí ir pra casa da
minha avó era especial, domir uns dias lá (quando meu irmão teve catapora, daí eu e
meu outro irmão fomos pra casa da vovó), era diferente, sabe? E o diferente era muito
massa, a porta principal da casa é daquelas bem grande, dupla porta de madeira com
venezianas, então quando abria de manhã era aquela claridade boa das 6hs, daí a mesa
das refeições era esse primeiro cômodo iluminado, que tinha vista pruma área da frente
da casa com plantas e com uma cisterna.
A minha avó sempre foi uma cozinheira de mão cheia, esses foram os quitutes
na mesa de café: tapioca de tabuleiro, canjica, mucunzá salgado, doce de banana,
buchada. Mas do que especificamente só tinha na casa da minha vó era: café Nescafé,
suco de maracujá da fruta (sabe aqueles carocinhos pretos da semente triturada?) e
lambedor (tomávamos direto quando estávamos gripado e era ela que comprava aquelas
13 ervas e fazia).
Acho que eu adoro o sabor de coisa nova, tipo o café da casa da vovó era muito
massa pq era Nescafé, sabe? O cheiro era diferente o modo de preparo tb, você que
media na sua colher e preparava. Daí depois de tomar café, certamente eu ia pro quintal
da vovó onde tinha uma pastor alemã amarela (que eu não tinha muito medo, hehe,
eu entrava no quintal, mas pra sair era difícil pq a cachorra ficava ali colada pra entrar
dentro de casa, daí tinha que uma pessoa segurar ela lá pelo outro portão), tinha um anel
de cacimba cheio de peixes ornamentais que a vovó vendia pra meninada do bairro, daí
a gente ficava com aquelas redinhas caçando os peixes, há fora esse anel a vovó tinha

um grande aquário que ai sim dava pra ver todas os tipos e cores de peixes.
A casa da minha vó era diferente, o quarto dela (que não mostrei pra vcs na
visita pq tava trancado e não me lembrava da importância dele) tinha o chão todo de
carpete, e a colcha de cama sempre feita por retalhos (costura e culinária: referência
à minha avó) o quarda-roupa marromzão era a parede toda do quarto e as portas eram
todas iguais, mas uma levava pro banheiro, o banheiro era num nível mais baixo e
tinha bidê, eu adorava limpar a xereca com água (kkkk), acho que era de azulejos todos
azuis... E tinha uns mosquitinhos inofensivos que só existiam lá na casa dela, mas eram
tipos mosquitinhos de banheiro. A minha memória afetiva perpassa muito por cores, a
casa da minha vó é referência de cores e de cheiros... cheiro de café, de água de aquário
e de retalhos por exemplos.
A porta que dava passagem pra cozinha era muito massa de madeira branca
vazada e tipo porta de filmes bang-bang, tipo de cozinha mesmo sem maçaneta, nem
tranca. O momento do café da tarde era esticado, enquanto tios(as) e avôs e mãe
jogavam baralho (referência estética) os netos se divertiam pela casa.
E pelo bairro da minha vó eu fiz balé, jazz e catecismo, lembro que íamos
sempre a pé, e era até distante, agora vejo que ainda existe a mesma academia de balé/
jazz há 1 quarteirão, e a Igreja de Nossa Sra de Assunção há 4 quarteirões.
Saia com minha vó pra comprar ervas na feira, ração pros peixes, comida pros
periquitos australianos, e esse outro mundo da rua e seu comércio também era
fascinante.

O terceiro local feliz e significativo da minha infância, foi minha rua, meu
bairro. Eu passava a tarde e noite no “meio da rua”, só voltava pra casa pq meu pai
gritava do portão ameaçando me bater, e eu voltava bem sujinha mesmo, pés pretos e
morria de preguiça de tomar banho, quantas vezes dormir com os “pés pretos”, rs.
Tudo que foi brincadeira eu brinquei: pega-pega, jou ajuda, 7 pecados, carimba,
vôlei, carrinho de rolimã, patins, fiz pipa “bolachinha”, eu também era meio menino, pq
tava sempre em companhia de meninos, meus dois irmos e o gato do vizinho, hehe, ele
era lindo, Walace, mas eu era muito pequena era só contemplação mesmo.
E junto com meus irmão, dentro de casa, tínhamos LEGO, Atari, Máster System,
War, muitos outros jogos de tabuleiro, deve ser por isso que eu amo jogos hoje em dia,
e também tive um irmão curioso, imaginativo e criativo que bolava pra todos garotos da
rua Casa do Terror e dublagens de vídeos (um pouco mais tarde). Lembro das febres
dos brinquedos e supérfulos: correntinha de clipes coloridos de plástico, coleção de
papel de carta, pulserinhas de hippies que a gente mesmo fazia com tábua de madeira,
pregos e linhas de crochê coloridas. Lembro que bebi álcool achando que era água pq
meu irmão cientista queria ver um gelo pegar fogo, lembro que ele tb queimou uma
tábua de madeira escrevendo nela com lupa através do Sol, lembro que quebrei a perna
com 11 anos (acho) era um domingo à noite e eu frescava com um bêbado na calçada
junto com umas colegas, a gente chegava perto do bebo dizia algo se assustava e corria,
daí caí de mal jeito, 6 meses de gesso e muitos kilos a mais.
Infância anos 80 né? Sensacional... a tia da minha amiga trazia muambas do
Paraguai e a gente ia pra casa dela fascinada ver... Corri muito e me ralei demais, andei
de bicicleta e cai também, lembro da rua de calçamento ainda e eu tinha ganho uma
bicicleta com cestinha, fui inaugura-la comprando o pão de manhã, pão naquela época
só era pão bengala sabe? E não tinha saco, era só aquele papel de pão um pedacinho
enrolado no meio onde se pegava, eu botei o pão na cestinha e antes de chegar em casa,
rs, ele caiu no chão, no calçamento, na areia, acho que não comi pão naquela manhã e
também não contei, hehe.

Minha infância em casa foi meio “bicho-solto”, meus pais sempre trabalharam o
dia todo e nunca almoçavam em casa, ou seja era rua direto.

Prefiro as partes felizes, posso dizer que curti muito ser criança.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011






“Talvez hoje não seja o melhor dia pra escrever da alegria de ser criança.
Vou falar a priori da simples coisa de viajar pra casa dos meus avós (vô Manel e vó Tereza).
todo final de semana de não sei quantos anos eram passados na casa da Tereza, tinha bolo de todos os gostos, sucos e subir no pé de cajueiro.
Cinco da tarde Manel chegava e os três netos corriam:
-benção vó!
-Deus te abençõe, Deus te abençõe, Deus te abençoe.
Nós achavamos que Manel era rico, pois os bolsos dele sempre tinham muitas moedas fazendo barulho, e ele pra certificar esse pensamento,
todos os dias assim que chegava dava-nos 50 centavos pra cada neto.
A gente corria pra mercearia do Zé e voltavamos com sacos cheios dos mais gostosos bombons e chicletes que já comemos.
Sem contar as vezes que minha vô prometia dinheiro se a gente deixasse ela catar os piolhos de nossas cabeças.
 Sim, cobravamos isso dela. E era com prazer que ela pagava e achamos os mais espertos do mundo por ganhar dinheiro dos nossos avós. “

terça-feira, 29 de março de 2011

Um pouco do que falam sobre a memória.

Acredito que minha geração vive um conflito com a memória e seu papel em nossas vidas, e me coloco aqui como uma representante daquela. Esquecemos-nos muito rápido, vivemos na velocidade da informação, no tempo do consumo, um tempo de instantaneidade contínua. Passamos por constantes transformações do fluxo informacional, e é esse fluxo que determina a forma como nos relacionamos com as coisas, os sentimentos, os pensamentos, o espaço e o tempo. Um tempo infinitamente presente, que subverte nossas relações como passado e com o futuro. Em relação às gerações anteriores, nossa noção temporal mudou (MELLO, 2009). O passado, passa muito rápido, se subdivide em passados velhos e novos, o tempo é usado e consumido. A memória se dilui.

O conceito de memória pode ser compreendido como o armazenamento de informações passadas das quais o presente se serve (LE GOFF, 1996), mas alguns teóricos destrincharam ainda mais essas questões.

Ao comentar as concepções de Henri Bergson sobre a memória, Bosi (1994) esclarece que a memória seria nosso conhecimento subjetivo das coisas, dividindo-se em percepção e lembrança. A primeira apareceria como uma pausa entre as ações do organismo, seria uma relação do presente e da ideia, um ‘vazio’ que se povoa de imagens, e parte da imagem do próprio corpo e de suas relações com o espaço que o cerca, estando localizada na superfície do presente. Já a lembrança exigiria um ‘movimento’, um ‘trabalho’ ou uma ‘ação’, o ato de lembrar que está diretamente ligado ao presente, como se o passado puro e intacto se armazenasse no fundo do lago do presente e fosse resgatado pelo ato de lembrar, invadindo e misturando-se ao presente e à percepção, formando, assim, o complexo da memória.

Sendo assim, o corpo, os objetos e o espaço com o qual esse corpo se relaciona seriam “capturados” pela percepção e resgatados pela lembrança, sendo ambos atos do presente, relacionando-se com o passado, seja capturando informações do presente e armazenando- as como passado, seja partindo do presente em direção ao passado no ato de lembrar. “É do presente que parte o chamado ao qual a lembrança responde.” (BOSI, 2007, p. 48).

A subjetividade, a contemplação e o espírito seriam alegações voltadas à lembrança, enquanto a exterioridade e a matéria filiam-se a percepção. A percepção é também uma relação do indivíduo com o espaço no seu presente. Assim, a memória torna-se uma relação do espaço e do tempo, da imagem e do mundo.